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9 de jul. de 2013

33 anos sem o Poetinha

Caetano ainda garoto acreditava que Vinicius de Moraes era um poeta negro do Rio de Janeiro, isso porque depois de assistir Orfeu da Conceição que era composta por um elenco negro, pensou que Vinicius fosse um dos atores. Porém não estava de todo enganado, pouco depois o Poetinha vem nos dizer que é o branco mais preto do Brasil.

Vinicius nasceu em 1913 na rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico. Filho do erudito com o popular, pode ver a cidade do Rio de Janeiro tomar forma e com ela ir se adaptando e se desenvolvendo. Seu lema na juventude era: " Escreve com teu sangue e verá que o teu sangue é espírito". Estudou do Colégio Santo Inácio onde pregava o erudito, porém ao mesmo tempo se divertia com as putas da Lapa e era amigo dos sambistas. Em 1930 ingressou na faculdade Nacional de Direito. Aos poucos foi tomando forma e a sua poesia imitando a vida, apresentando o cotidiano com naturalidade sem abandonar a técnica. Vinicius passou a ter vibrações, seu humor era mais do que visível, era sentido. Assim o homem passou de poeta para poesia.

Ele gostava de falar no diminutivo, de dormir com conversas ao seu redor, de ir ao bar com os amigos. Desapegado a luxuria, raramente o viam mal humorado. Considerava as dores do amor algo necessário, extremamente sensível, embrulhava tais sentimentos e nos jogava na cara com suas poesias. Era um apaixonado, amava a bebida, a música, os amigos e as mulheres, não foi à toa que casou-se 9 vezes. Ele se entregava, caía nos braços de tudo que parecia felicidade. Tomo a liberdade de denominá-lo imprevisível.

Bebia absurdamente, entrava num estado de espírito que julgava necessário, porém raramente ficava embriagado. Boêmio, era possível vê-lo com um violão debaixo de um braço e debaixo do outro uma garrafa de uisque. Período caracterizado por sua fertilidade, cotidianamente compunha uma música nova. Época em que criou a Bossa Nova juntamente com Tom e João Gilberto. Algo considerado absolutamente novo, simultaneamente simples e requintado. E assim como enxergava o moderno e o transpunha para a sua obra, também observava o outro lado inegável no país. Seus parceiros foram muitos, Tom, Chico, Baden( com quem fez o Afro-Samba), Pixinguinha, Toquinho, Francis Hime, Edu logo, Carlos Lyra e tantos outros.

Vinicius é puramente amor, aquilo que ninguém pode definir, não sabe-se a forma, o gesto, o toque. Que sabor teria? Toca-se música e simplesmente é possível sentir Vinicius. Quando vive-se plenamente um momento é possível sentir Vinicius. Quando ama-se alguém, sente-se Vinicius. Ele nos incorporou, nos bebeu em seu uísque e nos derramou em sua poesia. Porém, onde seria possível estar Vinicius hoje? Ele foi um bem necessário, e é preciso resgatar seus pensamentos que defendia o avesso do que é valorizado hoje. Todo o individualismo e a luxuria impedem o indivíduo de viver o presente, visando sempre o futuro a procura de um ponto de chegada. Como um bom ser desapegado, era generoso e se preocupava acima de tudo com o momento e com seus amigos. Depois dos shows, enchia seus bolsos com o pagamento e ia deixá-lo todo em algum restaurante. Seu maior medo era a solidão, muito mais apavorante do que a tristezas e a infelicidade, estes últimos dois sentimentos fazem parte da vida e ai de quem não o tiver sentido absolutamente. Uma vez na companhia de um tradutor americano ele traduziu um de seus versos ao pé da letra: It’s better to live than be happy. Então o tradutor disse que estava errado, que o certo seria: It’s better to live and be happy. Tom então relatou que o viver do Vinicius é completamente diferente do viver dos americanos.

Um pouco antes de morrer em 1980 ao encontrar uma mãe de santo lhe perguntou: "Diga a verdade: eu vou morrer?" E a resposta não poderia ser diferente: " Claro que você não vai morrer, Vinicius. Você é imortal" É inegável que lamentemos sua morte, porém mais do que isso devemos comemorar a sua vida. SARAVÁ!